Os Esportes e a Simplicidade

Sempre gostei de coisas simples.

Preferia fazer atividades ligadas à natureza do que algo na cidade e isso me acompanhou em quase tudo que fiz até agora. E continuo descobrindo que quanto mais o tempo passa, mais simples são as coisas que me dão prazer.

Com os esportes foi a mesma coisa. Tudo o que fiz teve uma forte dose de simplicidade, seja ela explícita ou embutido em algum aspecto da atividade. E o denominador comum entre todas estas coisas sempre foi a natureza.

No montanhismo o objetivo sempre foi simples: ande pelo mato por horas e chegue ao alto da montanha.

No paraquedismo, apesar de parecer altamente tecnológico, as regras se resumem a duas coisas: se jogue de um avião em movimento; algumas centenas de metros antes do chão chegar, abra o paraquedas! Entre o avião e o chão treine para voar com o seu corpo.

E o bumerangue? Quer algo mais simples que isso? Um pedaço de madeira que voa e volta na sua mão? E ainda tem muita gente que pensa que ele não funciona. Que só é coisa de desenho animado! Bem, veja o vídeo acima (sou eu mesmo!) e tire as suas conclusões. 🙂

O vôo livre leva a essência da simplicidade às alturas. Nele você voa por dezenas de quilômetros sem precisar do auxílio de um motor. Tudo o que necessita é, através do auxílio das térmicas, manter-se o mais alto e por mais tempo possível longe do chão.

O que mais me surpreendia no parapente era o equipamento. Eu saía de casa com uma mochila que não pesava mais que quinze quilos e pensava que havia esquecido algo. Era inevitável esta sensação. Como que algo deste tamanho e peso pode me levar voando por mais de 50 quilômetros de distância?

E a bicicleta também resume bem as coisas. Agora o motor são as suas pernas, e o combustível vêm da sua resistência. Junte tudo isso e poderá pedalar muitos quilômetros com uns poucos litros de água e alguns biscoitos.

Acho que foi isso também que me atraiu para a corrida. Quer algo mais minimalista do que um esporte que não exige nada? Você já notou que o equipamento essencial para a corrida é o calção? Todo o resto não é necessário! Se para voar você precisa do parapente e para pedalar precisa da bicicleta, na corrida você não precisa nem do tênis, ainda mais depois que reinventaram a corrida descalço. Estes calçados minimalistas como a Vibram Five Fingers ou a Okean Maré me chamaram a atenção por esta causa. Eles não deixam de ser um calçado, mas tentam restringi-lo ao mínimo possível, ao essencial.

Isso me lembra uma frase de Saint-Exupéry: “A perfeição é atingida quando é retirado todo o excesso, e não quando não há mais nada para se acrescentar “.

Mas engana-se quem acha que as coisas simples são fáceis. Elas exigem muito tempo de dedicação e nos contam os seus segredos somente depois de uma grande convivência. Já notou que o campeão parece fazer as coisas com uma grande facilidade? Agora imagine o quanto de tempo ele dedicou para que o seu movimento se tornasse tão fluído a ponto de parecer simples?

Vivemos hoje numa era onde temos muitas coisas, onde as opções são muitas. Não existem mais Ford’s-T Pretos. Agora você tem toda uma gama de cores disponíveis para escolher!

Acho natural que cada vez mais pessoas escolham esportes ligados à natureza. É uma maneira de contrabalançar a tecnologia e abundância que somos bombardeados todos os dias. É a maneira do subconsciente voltar às coisas simples, ao essencial. Eu não quero mais a última novidade, o último lançamento. Eu quero aquela trilha velha, conhecida, e com bastante pó ou lama. Quero me identificar com algo que está lá e vai permanecer; não com um objeto que daqui a seis meses não valha mais o custo da embalagem em que foi produzido.

Eu não quero mais. O meu menos é mais!

4 comentários ↓

#1 Lex Blagus on 10.02.09 at 11:23 am

Poético, inspirador, verdadeiro.

#2 Fabiula on 10.05.09 at 1:06 pm

Muito bom!!!!

#3 O Corpo Doído da Segunda-Feira e o Excesso de Informações — Transpirando.com on 10.06.10 at 11:17 am

[…] um exercício de simplicidade: vá retirando, dia-a-dia, o açúcar que usa na sua bebida. A cada dia, use um pouco menos. A cada […]

#4 Alessandro on 11.25.10 at 8:00 pm

Muito interessante o teu texto. Lembro que, há muito tempo atrás, um pouco depois da adolescência eu comecei a correr. Não pelo simples prazer de correr mas na época eu treinava tae kwon do e o nosso instrutor sempre valorizou muito a corrida.

Na época, fui a uma loja, esolhi um dos modelos mais caros (e bonitos) de tênis de corrida e pensei, Vou arrebentar com um desses! Puro engano.
Aos sábados, normalmente reuníamos os alunos mais graduados e iamos fazer uma corrida de 8 ou 10 km. O tênis era desconfortável, e eu tive que parar antes de completar os primeiros cinco km, com folego para correr os 10km mas com os pés destruidos.

Lembro que o primeiro conselho que o instrutor deu foi: jogue esses tenis fora e vá correr descalço! Na época eu achei doidera, e continuei insistindo com o tênis, até me acostumar a ele. Hoje, depois de muito tempo parado, voltei a correr, na verdade ainda estou na fase do trote, bem devagar, pois decidi que iria começar a correr descalço, mas pude notar grandes melhoras e relembrar a minha experiência no tae kwon do. Hoje eu sei que, se tivesse seguido a orientação do meu instrutor, provavelmente eu teria os pés muito mais fortes do que eu os tenho hoje, e eu teria conseguido isso sem nenhum custo financeiro extra, gastando apenas a força de vontade.

Graças a essa e a uma série de outras análises que fiz com o transcorrer do tempo, defendo claramente a ideia do menos é mais, onde com muito menos se pode fazer muito mais. Basta ver o exemplo do parkour, onde os praticantes não usam nada a de equipamento e conseguem fazer proezas muito interessantes com o próprio corpo e um obstáculo que esteja noo caminho.

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