Seguindo a série de artigos “O que … me Ensinou“, agora vou falar um pouco do paraquedismo.
Já faz muito tempo que dei o meu primeiro salto de paraquedas, lá em 1994. Naquela época o esporte ainda chamava-se pára-quedismo, mas pelo que acompanho, não mudou muita coisa deste então.
O paraquedismo foi o esporte que me trouxe as emoções mais fortes que já experimentei na vida. Realmente a queda livre é algo excepcional, nos desconectando do mundo em que vivemos. Mas como já disse no artigo anterior, quero passar aqui um pouco mais das emoções internas que tive com o esporte.
Vida
O paraquedismo tem um paradoxo estranho. Apesar de ser um esporte de alto risco, ele carrega muita vida em si. Saltar de paraquedas nos deixa mais vivos. Provavelmente a sensação de ter a morte perto deixa a vida mais real e necessária. A euforia que invade o paraquedista quando chega ao solo é algo de causar inveja: um enorme sorriso no rosto, daqueles que fez uma travessura das boas. É verdade, o céu vira mesmo um playground de adultos. 🙂
Confiança
O paraquedismo me ensinou a ter uma boa dose de confiança. Tudo tem que funcionar perfeitamente (ou quase) para que o salto seja bem sucedido: o paraquedas tem que ser bem dobrado, o equipamento deve ser checado, o avião e piloto tem que estar em boas condições, a condição meteorológica deve estar ok e vários outros itens precisam estar numa condição ótima. Cada coisa tem que funcionar como um relógio, e você é treinado para fazer isso. Se alguma coisa falhar, a confiança tem que ser depositada toda em você, para resolver a situação.
Confie e tenha confiança. Acho que este é o resumo.
Liberdade
O paraquedismo também me ensinou a trabalhar a liberdade. E ela é bem parecida com a que temos na vida real. Durante a queda livre você tem liberdade total, podendo fazer o que quiser. Aproveite, pois ela não é para sempre. Dali a pouco você precisa tomar consciência que terá que seguir as regras e abrir o seu paraquedas. O chão está próximo e não adianta tentar fugir desta realidade.
Aproveite a sua liberdade, mas com consciência, para poder desfrutar dela mais tarde.
Humildade
O paraquedismo me deu algumas lições de humildade. As básicas e que aprendemos em outros esportes, como seguir os ensinamentos do seu instrutor e escutar os mais experientes estavam presentes. Mas como eu sempre fui muito comportado, isso não conta. O que ele me ensinou de verdade foi a humildade de sair de cabeça erguida quando percebi que o esporte era muito caro para a minha situação financeira.
Saltar de paraquedas era uma coisa tão boa que eu lembro de ter pensado, logo no começo, que poderia fazer aquilo para o resto da minha longa vida. O que eu não contava é que o preço era, literalmente, muito alto. Os custos envolvidos no paraquedismo, pela necessidade de um avião, acabaram jogando na minha cara a dura realidade da vida. Eu não tinha dinheiro o suficiente para saltar o quanto queria. Depois de quase um ano saltando resolvi desistir do esporte para não ficar frustrado. Mas não fiquei chateado, assimilei a lição e parti para outra, sem pestanejar.
Superação
A falta de dinheiro também me ensinou a brigar para consegui-lo. Quando vi que a grana era curta, arrumei alguns trabalhos esporádicos com programação para suprir a minha vontade de saltar. O objetivo era comprar um paraquedas. Mas depois de um tempo notei que este custo era o que menos importava, e que teria que pagar sempre um avião para me levar para cima. Como a compra de um avião estava fora de cogitação usei o dinheiro ganho com os trabalhos extras para investir em outras coisas. Mas a lição foi aprendida: correr atrás de alguma coisa que queria muito.
Sangue Frio
Essa é básica também: no paraquedismo se aprende a ter sangue frio. Se jogar de um avião e cair no vazio a quase 200km/h não é para qualquer um. E o sangue frio conta muito para continuar a entrar no avião, salto após salto. A boca seca, o coração batendo forte e a mão suando frio fazem parte da brincadeira. Com o tempo estas sensações diminuem, mas nunca acabam totalmente. O único problema é que alguns atletas deixam a emoção básica e primitiva ser suplantada pelo sangue frio. Daí a brincadeira acaba.
Eu sempre preferi os amigos que deixavam o instinto básico aflorar, curtindo aquilo como se fosse a última coisa do mundo. O problema é que para alguns foi mesmo. No final das contas o melhor é seguir o caminho do meio.
Conclusão
Já pratiquei vários esportes, mas o paraquedismo sempre terá um lugar especial no meu coração. Acredito que nunca mais voltarei a saltar, mas nem por isso deixo de relembrar aqueles momentos mágicos onde voei de verdade, tendo sensações que poucos já vivenciaram.
5 comentários ↓
Massa o texto e a série! Realmente as lições são para toda vida!
Abração.
Esse foi o melhor texto que li em seu blog. O depoimento é muito bonito, além do que a idéia de refletir sobre as lições do esporte é muito interessante.
fala Rodrigo, está ai um esporte que nao sei se um dia praticarei,nao pela grana,mas sim pela superaçao ,admiro muito quem fez ou faz como voçe,estar tao perto de Deus e ao mesmo tempo tao perto da morte é para poucas pessoas como voce. As liçoes sao para vida toda,fica guardado para sempre na memoria.E sobre a humildade é um paradoxo,vem de berço,um voou de paraquedas ou um simples empinar de papagaio tem o mesmo valor,só depende da pessoa.
otimo post,abraçços
Tá na minha TO DO list. Só não sei se vou ter coragem de fazer isso algum dia. Mas tá na lista….
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