Conheci o pessoal da equipe Guartelá nas provas de Corrida de Aventura que participei e, aos poucos, fomos conversando. Em cada prova trocávamos alguma informação; em algumas fui atrás, em outras corremos juntos vários trechos. Pessoas legais e com alto astral são ótimas de de conviver, e nada melhor do que entrevistá-los para o blog, não é?
Transpirando.com: Contem um pouco da história da equipe, a origem do nome e um pouco sobre cada um dos integrantes. Falem também das suas principais conquistas.
Guartelá Ale: A equipe surgiu em janeiro de 2009, como uma união das antigas equipes Body Imports Adventure e Fênix; da Body Imports eram o Nego, Karina e o Felipe. Da Fênix, Paulinho, Ale e Gambá. Como o Paulinho, Nego e Karina são irmãos, a interação dos treinos e do dia a dia foi o que motivou a união das equipes, pois sempre faltava “um integrante” no quarteto em ambas as equipes…
O nome Guartelá veio da intenção em se colocar um nome que remetesse ao estado do Paraná e também simboliza as duas equipes que se fundiram, como o cânion faz com as duas escarpas, a do sul e a do norte.
Dentre as principais conquistas estão a de Vice-campeã Sulbrasileiro 2009, Campeã do Circuito Extremaventura 2009, Vice-campeã Chauás 300km 2010 e 3° Lugar Geral Troféu SP 2010. (O currículum completo tem no site da AdventureMag). Não somos melhores que ninguém, muito pelo contrário, ainda temos muito, mas muuito mesmo prá aprender e nos desenvolver. Temos consciência de nossas limitações e é por isso que somos gratos pelos resultados obtidos.
Transpirando.com: Pelo visto a família Bruning está em peso na equipe. Esta veia esportista apareceu desde criança? Quem foi o primeiro?
Guartelá Paulinho: Bem, para falar a verdade nunca fomos praticantes de nenhum esporte quando pequenos, o Nego (Carlos Bruning) nem futebol jogava…rs, e eu só jogava futebol e não praticava mais nenhum esporte. Quem começou com corridas foi a Karina, ele fez alguns Duathlon’s e corridas de rua, eu e o Nego gostavamos bastante de montanha, fomos escoteiros por um bom tempo, subi o Pico do Paraná com 14 anos a primeira vez junto com o Nego. Mas foi em 2003 que a Karina recebeu um convite de uma equipe para correr uma etapa da Extremaventura em Paranaguá, eu fui junto para assistir a prova, pois só tinha visto corrida de aventura no Dyscovery. Ali começamos nas corridas, na etapa seguinte em Balsa Nova eu fui junto para correr minha primeira aventura e na etapa seguinte Londrina o Nego começou também, a partir dai não paramos mais de correr juntos como Body Imports (nome da equipe na época), só separamos em 2007 e 2008 quando eu corri na equipe Fênix.
Transpirando.com: Por que se dedicar às Corridas de Aventura? Qual é o motivador para vocês correrem cada nova prova?
Guartelá Ale: Tem uma frase que copiamos e adotamos de um outro colega corredor que responde bem: ” Se conseguissemos explicar, vocês não entenderiam…” rsrs
A motivação para correr cada prova é muito individual, mas existe uma paixão comum, que, para quase todas as outras pessolas são motivos para não ir numa prova: você passa frio, fome, se machuca, detona todo tipo de equipamento, bike, roupas, deixa de ficar com a família um final de semana inteiro, gasta com gasolina, acomodação, às vezes fica horas e horas perdido no meio de um mato e ainda tem que trabalhar na segunda-feira! Tudo isso para não ganhar praticamente nada; em termos financeiros, muito pelo contrário. Mas há uma coisa que, como disse, não tem como explicar: são as experiências que passamos durante uma corrida. Depois de cada prova, sempre fazemos um relato de tudo que passamos, coisas que marcaram de alguma maneira aquela prova (quem sabe daqui um tempo a gente publica isso em forma de livro!).
Guartelá Paulinho: Isso é uma coisa bem particular mesmo, como dizia a propaganda “cada um na sua, mas com alguma coisa em comum” essa coisa em comum é o que faz cada um iniciar uma nova aventura. Eu aprendo muitas coisas durante as provas, acredito muito em cada lição que podemos tirar desse esporte, aprendemos a valorizar muitas coisas, desde um copo com água até uma roupa para se aquecer, de uma discussão sobre uma rota até uma ajuda do outro integrante da equipe quando se esta mal, enfim o trabalho em equipe de uma forma geral.
Transpirando.com: Nunca corri em quarteto, mas tenho plena consciência que toda a operação é mais complexa. Como vocês interagem entre si nas provas, quem executa o que, e quais são os pontos fortes e fracos de cada integrante?
Guartelá Ale: Como a gente corre junto já há algum tempo, só de olhar um pro outro já sabemos o que está se passando na cabeça dele. A gente procura sempre não stressar, mas, claro, tem momentos que um acaba explodindo. Numa equipe onde há 3 irmãos, então, imagine… Mas, uma coisa que sempre temos em mente, é o respeito um com o outro. Num quarteto isso é muito importante pois os problemas são quadriplicados. Costumo dizer que é mais difícil montar e manter um quarteto correndo na mesma formação durante um ano do que simplesmente correr todo esse período: a maior dificuldade dos quartetos é, sem dúvida, se formar e se manter por um período expressivo. Esse ano temos uma idéia de correr algumas provas que não façam parte do calendário “oficial” na categoria solo, justamente para termos uma real idéia do que é correr por sua própria conta e risco. Tem muitas coisas que em quarteto é facilitado, mas ao mesmo tempo tem muitas outras coisas que ficam bem mais complicadas. Na nossa equipe, bem ou mal, todo mundo faz de tudo um pouco: navega, conserta e prepara as coisas, cuida da alimentação… tudo depende da circunstância. A gente procura sempre ter uma atitude positiva e bem humorada, afinal, é isso que fica marcado depois das provas.
Guartelá Paulinho: Essa parte na minha opinião é a mais importante, quando se tem as funções de cada um, toda a operação fica mais fácil. Conhecemos muito bem um ao outro, devido a isso as coisas acontecem com uma certa facilidade, porém quando se esta cansado, com fome e com frio as coisas ficam bem mais difíceis e aí entra a união da equipe e todo mundo tem que saber fazer tudo, senão a equipe para e a prova acaba.
Transpirando.com: E com relação ao treinamento? Qual é o dia-a-dia de vocês para enfrentarem as provas de aventura?
Guartelá Ale: Temos uma rotina que combina um personal trainer para cada um, além de um grupo de especialistas do exército Israelense, que acompanham e monitoram nosso desempenho nos treinos diários, avaliando e corrigindo eventuais desequilíbrios. Também temos à nossa disposição uma equipe médica especializada em fisiologia do esporte aplicado à prática outdoor. Nos treinos assistidos semanais, contamos com uma equipe do Discovery Channel cobrindo nossas épicas incursões pelos mais inóspitos locais do sul do mundo. No âmbito nutricional, contamos com técnicos alemães e canadenses que, em parceria com a Nutrilatina, acompanham diariamente nossa alimentação, controlando nosso peso, IMC, índice de gordura e demais relacionados ao esporte de alto desempenho. Quando nada disso dá certo, apelamos para a boa e velha pedalada dos finais de semana mesmo, parando num boteco prá tomar uma coca-cola com uma coxinha de vez em quando… rsrs
Guartelá Paulinho: Essa parte talvez seja a mais curiosa da equipe, pois não temos nenhuma rotina de treino, cada um treina quando dá, normalmente é um pedal no final de semana ou a noite quando consegue e corre na rua quando sobra algum tempo e vontade. O que nos faz terminar cada prova é a vontade de completar o desafio, se dependesse do físico talvez nem largaríamos.
Transpirando.com: Além das corridas de aventura praticam outros tipos de esportes e competições? Quais?
Guartelá Ale: Eu pratico (ou tento) corrida de orientação e também gosto bastante de escalar, mas ainda estou aprendendo a arte.
Guartelá Paulinho: Eu sou praticante de corrida de orientação, mas só competimos em outros esportes quando a data não bate com as corridas de aventura, sempre que conseguimos participamos de provas de MTB e algumas outras corridas, usamos como treino já que não temos o hábito de treinar.
Transpirando.com: A partir de 2009 vocês começaram a organizar corridas de aventura, fazendo os roteiros para as provas de São José dos Pinhais em 2010 e 2011. Como foi a experiência de estar do outro lado da mesa? Qual é o futuro de vocês nesta área?
Guartelá Ale: Como não temos patrocínio, vimos na organização de uma corrida de aventura uma excelente oportunidade para tentar abater um pouco do prejuízo e sustentar o vício. A ideia era antiga e foi levada a cabo depois de um convite do Júlio, que viu um post meu no site da Chauás comentando que tínhamos essa idéia engavetada há algum tempo. Na primeira edição conseguimos uma prova que, particularmente, gostei muito pelo traçado e pelo resultado positivo dado pela galera; esse ano a idéia foi bem diferente, ficamos de fora de algumas decisões administrativas e a proposta veio com algumas diretrizes que limitaram a prova, mas confesso que o resultado foi bem bacana. Todo mundo elogiou, incluindo a prefeitura. Gostamos muito da experiência, mas tenho que dizer que o empenho é 200 vezes maior do que competir. São milhares de detalhes que não tínhamos nem noção e que podem transformar uma brincadeira numa catástrofe facilmente. Quanto ao futuro, temos um sonho de fazer uma prova expedicionária, mas o público para esse “mercado” de provas está cada vez mais escasso. De qualquer forma, a galera pode esperar que vamos sim continuar fazendo provas!
Guartelá Paulinho: Isso é algo que vinha a tempos, mas ficava somente na ideia mesmo, quando o Julio da Extremaventura (Muito obrigado Julio!) abriu esta oportunidade foi muito legal, porque acabamos vendo duas coisas principais (além é claro de tudo que você aprende no meio do processo), tivemos a chance ver o lado do organizador, todas as dificuldades antes de começar até o pós evento e visualizamos o que era organizar uma prova, coisa que vínhamos pensando a tempos. O que tiramos de tudo isso foi uma boa lição de valorizar os organizadores e toda a equipe que trabalha nas provas, pois sentimos na pele o que é controlar e fazer toda a estrutura funcionar. Por outro lado nos tornamos mais chatos, quando vamos em alguma prova e detectamos alguma falha na organização, fazemos questão de sugerir/informar sobre o que aconteceu. Se possível, continuaremos organizando provas e temos alguns projetos que estão só na fase da ideia ainda.
Transpirando.com: Qual é a receita ideal para vencer uma corrida de aventura? Quem já participa e almeja melhores classificações devem se dedicar a melhorar o que?
Guartelá Ale: A receita infalível a gente não conta; quando descobrir-mos, quem sabe a gente venda num leilão, rsrs! Sinceramente, não acredito que exista tal receita. Por outro lado, uma dica infalível para quem quiser VENCER uma corrida de aventura é, primeiramente, definir seus objetivos particulares, saber o que se quer ou o que se espera daquela prova. Por exemplo, para muitos, o fato de terminar uma prova é uma vitória muito maior (tem um peso muito maior) do que o fato de uma outra equipe/competidor ficar em segundo lugar. Também acredito que numa corrida de aventura TODOS ganham de alguma maneira. Na etapa São José desse ano tivemos o exemplo da dupla Perdidos&Achados, que não estavam preocupados com colocação, roupas de performance, equipamentos de ponta… completaram a prova com um espírito que há muito tempo não via numa equipe, que, para mim, é o verdadeiro espírito aventureiro. Acho que é isso que está faltando na maioria das provas: mais aventura e menos corrida.
Guartelá Paulinho: Se você souber me conte…rs Mas tem algumas coisas que são muito importantes para vencer uma prova, primeiramente tem que ter muita vontade, mesmo que você saiba que suas chances são mínimas, acredite é possível. Saber lidar com todas as situações que acontecem sem perder a esportiva e tentando manter o bom-humor, confiar muito na sua equipe e passar a mesma confiança para eles, pois se um não estiver na mesma sintonia, a chance de errar é muito grande. Mas o vencer é bem relativo, para nós, damos a prova como vencida quando chegamos no final e cruzamos o pórtico sabendo que demos nosso melhor, aprendemos alguma coisa, nos divertimos com nossos amigos, não nos estressamos e vamos para casa todos sem maiores problemas físicos (pelo menos a dor sempre vai junto). Se você chegar no final e visualizar algumas dessas coisas, pode dar a prova como vencida. É claro que sempre tentamos a vitória, mas o resultado/colocação é conseqüência de tudo isso, nas nossas primeiras provas sempre éramos os últimos a terminar (quando terminávamos) e se duvidar ficávamos mais felizes do que muitas equipes quando vencem.
Transpirando.com: E a interação com outras equipes, como funciona? Durante a prova vocês são mais competitivos ou ajudam outras equipes durante o trajeto?
Guartelá: Participar de uma corrida de aventura sem interagir com as outras equipes é praticamente impossível. Já tivemos muitas experiências de equipes que nos ajudaram em situações de sufoco e vice-versa. Seja emprestando uma ferramenta ou dividindo o lanche. Muitos dos que correm em outras equipes são nossos amigos de conversa e convívio diário, a gente sempre tá se reunindo em outras atividades para “contar as mentiras”; lógico que quando a gente se encontra em uma corrida sempre tem uma competiçãozinha. Mas a gente se diverte, mesmo quando perde.
Transpirando.com: Obrigado pela conversa! Por favor deixem uma mensagem final para os leitores do Transpirando.com.
Guartela: Valeu aí galera do Transpirando.com! Os vídeos de vocês são show de bola, parabéns pelo trabalho!!
3 comentários ↓
Conheço todos eles, pedalamos algumas vezes juntos em São José. E são gente fina da melhor qualidade! parabéns pela equipe Guartelá.
Fiz o curso de corrida de aventura com eles , são pessoas muito legais e profissionais. E quanto a organização das provas , está muito bom, a idéia da pista de orientação foi fantástica!! Estamos com muita saudade dos ducks.
essa galerinha ai é muito especial, pois conseguem passar para nós, companheiros de corrida, o que é correr em harmonia , parabéns
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