Nostalgia: Valadares – O Sonho (Campeonato Brasileiro de Parapente em 1998)

A primeira vez que a gente vai para Valadares, nunca esquece. Este é um relato que fiz logo após retornar do Campeonato Brasileiro de Parapente, em 1998:

Após um ótimo mês de lua-de-mel voltamos a trabalhar 🙁 Mas nem tudo e’ tristeza 🙂 e gostaria de compartilhar com vocês o que é estar em Valadares por 12 dias voando até se cansar!

Valadares é uma cidade de +- 200 mil habitantes e ótima infra. Chegamos no dia 04/03 e já deu para babar ao ver o Ibituruna, imponente do aeroporto. Chegamos ao hotel às 16:00h e vendo a relação de hóspedes já nos sentimos em casa: Leandro, Frank, Marcia, Baby e muitos outros.

Os dois primeiros dias foram de poucos vôos. A condição ainda não estava muito boa. Foi só o domingo chegar (início do campeonato) que ela melhorou para somente ficar ruim dia 16/03 (dia de ir embora. Até perdemos o avião pois Valadares não tem [pelo menos em 1998] torre de controle e estava tudo fechado). Vocês não acreditam o que são 100 pilotos decolando em +- 40 minutos e indo girar a mesma térmica para começar o cross!!!

Como diversas pessoas já falaram, as condições não estavam fortes. Os campos estavam verdes, ao contrário de anos anteriores que estava tudo seco e tinham térmicas canhão para todos os lados.

Acho que estas condições favoreceram pilotos que como eu e o Samy estamos começando a tirar um melhor proveito de térmicas e partir para o cross. Digo isso pois não estava turbulento e se pegassemos térmicas canhão com o nosso nível de aprendizado poderíamos acabar amarelando! Desta maneira tivemos uma estupenda elevação no nosso nível técnico nestes 7 dias.

Eram comuns termos térmicas de 0,5 e 1,00. Térmicas de 2,00 e 2,5 foram consideradas muito boas e térmicas de 3 a 4 ótimas. Peguei algumas térmicas mais fortes (4 e 5) mas normalmente eram em bases de nuvens e cresciam sem dar um petardo de uma só vez. Agora teve gente que pegou térmicas de 7, 8 e até contaram um historia que o Lupa pegou uma de 12 (doze) na santa. Subiu reto sem nem precisar girar!

As térmicas normalmente eram grandes e fáceis de se identificar, pois pelo menos tinham uns 4 paracas enroscando na mesma (quando não eram 20!)

Tive uma emoção muito grande no primeiro dia de prova indo para o starting gate (alpercata – 13,1km). Ao começar a passar pela cidade na base da nuvem (1.300m asl 1.100 agl) comecei a olhar para o chão para procurar o start. Onde será que está??? Quando me deparo com uma monstruosa seta branca no chão apontando em direção ao posto JR (1o pilão). Nesta hora me toquei o que era uma competição a nível nacional e o que era voar em Valadares. Neste dia fiz 18,3 Km e já estava nas nuvens. Meu primeiro vôo de verdade em Valadares e já havia batido meu recorde (14,5 Km)!!

Uma coisa que aprendi em Valadares é que se você não é piloto de ponta, a perseverança e a força de vontade contam muito para não pousar no meio do caminho. Nos dois primeiros dias enroscava e logo tentava tirar para o cross para ir mais longe. Ao longo do campeonato notei que mesmo térmicas fracas (0,5) deveriam ser aproveitadas para se ganhar altura. Normalmente atirava-se na certeza vendo outra térmica mais a frente e com altura para chegar.

Teve dias em que cheguei a voltar no cross para pegar térmicas melhores que eu havia passado. Acabei me dando bem em todas as vezes que tomei esta decisão.

Voar em equipe é essencial. Sempre que podiamos/conseguiamos trocávamos informações pelo rádio de térmicas, tiradas, urubus, etc.

A 4a. prova para mim foi a realização de um sonho desde que ouvi falar de vôos de cross-country. O Leandro (valeu Le!) e eu pousamos no trevo de Taruaçu, a 51 Km do Pico do Ibituruna! Voamos praticamente juntos todo o tempo e consegui tirar da roubada a 100m do chão quando já estava procurando pouso aos 20Km. Fizemos este percurso em 4 horas (o Baby fez em 2:30h toda a prova (65Km)!!). Como cansa! Meus braços estavam em frangalhos depois do pouso. Depois de dobrar o equipo, dirigi-me à estrada para pegar o resgate com a Debora e parou uma kombi azul caindo aos pedados oferecendo cerveja gelada a R$ 1,00! Foi a glória!

Falando na Debora (esposa do Leandro) gostaria de dar os parabéns para ela pelo seu esforco e dedicação como equipe de apoio. Ela estava sempre indo de carro atrás do Leandro passando dicas/urubus/etc e fazendo o resgate. Uma boa parte da classificação dele foi devido à dedicação dela!

Como um dia é da caça e outro do caçador, na 5a. prova fiquei no Carrapato (a unica vez!) após uma batalha de 1 hora para não pregar 🙂

Na sexta prova novamente junto com o Leandro (uma boa parte do percurso) voei até Taruaçu e fiz mais um vôo de 52 Km. O Passarinho e eu mandamos baixo para uma montanha de pedras para sair da roubada e fiz meu primeiro lift-térmico. Explico: era só chegar perto da pedra e dava para sentir o calor subindo pelas paredes. Dei uns 3 a 4 bordos e já estava uns 20 metros acima da pedra para poder girar e sair da roubada. Este cross valeu pela batalha, pois meu sistema de acelerador arrebentou 3 vezes em vôo e consegui consertá-lo. Na primeira o cordelete escapou da roldana da selete e consegui colocá-lo no lugar. Na segunda vez o primeiro estágio arrebentou e fiquei voando somente com os pés encolhidos no segundo estágio. Na terceira vez a roldana da selete pulou para fora e só deu para vê-la caindo. Nesta hora não tinha mais jeito e perdi o acelerador!

Na quarta prova o mérito foi para o Leandro que tinha esquecido a máquina fotográfica dentro da mochila e em vôo retirou a mochila da selete e foi enfiando as coisas no macacão. Pegou a máquina, prendeu na selete e nesta hora descobriu que estava a menos de 70m do chão. Conseguiu enroscar em uma termiquinha piriri e ganhou o vôo!

Chegar às bases de nuvens é também uma coisa que não fazemos muito por aqui e é uma m-a-r-a-v-i-l-h-a! Sem entubar, aprendi a aproveitar a nuvem pelo maior tempo possível. Era só ir girando na térmica até ela. Quando chegava na base e começava a ver os fiapos brancos perto da vela, tirava para o cross e acelerava 50%. Se o vário continuasse a apitar para cima, acelerava 100%. Subindo mais ainda? Fazia orelhas mas continuava na base. Parava de subir, parava com as orelhas. Voltava a acelerar 50%. Assim saía para a tirada na base!

Outro ponto importante foram os vôos de Onyx. Ao ir para Valadares eu estava a + de 1 mês sem voar (que horror!) e tinha somente uns 20 vôos de Onyx. Ele se comportou muito bem e me apaixonei pela vela. Como o Giba comentou o Onyx parece um tábua em cima de sua cabeça. Tinha horas que eu sabia que o núcleo da térmica estava passando por determinada parte da vela e era só centrá-lo. Número de fechadas que tive?? NENHUMA! É claro que se não estivesse pilotando ativamente iria tomar algumas tabacadas. Acho até que se estivesse de cruzilhão poderia ter alguns colapsos. O engraçado é que com +-30 vôos de onyx, voei a mesma quantidade de horas que fiz com 90 vôos de Phocus! Viva a evolução!

No final do campeonato senti uma coisa que achei que nunca iria sentir. Eu estava cansado de voar. Tinha enchido o saco!! Que bom poder ter o privilégio de sentir isso, pois é sinal que voamos muito mesmo!

Cambuquira, aqui vou eu!

10 comentários ↓

#1 Kauan on 04.09.10 at 1:40 pm

Rodrigo…. muito massa o relato.. haha muito bom mesmo, eu adoro ver esses relatos das antigas. lembro quando meu pai foi pra valadares pela 1° vez… ele me ligava todo dia entusiasmado com tudo que estava vendo, e contava sobre os voaços e tdo mais..

ontem achei algumas fotos antigas na casa dele.. e vou digitalizar e colocar no meu blog… tem algumas tuas tbm.. da epoca do bar lembra??? vou digitalizar elas e mandar pro meu blog…
muito massa…
e apareca no palha qualquer hora pra mandar um pregolao!!

abraços
Kauan

#2 Rogerio Borato on 04.09.10 at 2:18 pm

É rodrigo, o tempo fez bem para voce,kkkkkkk que cabelo era aquele, parecia um ogro, muito bom recordar. abraççossssssssssssssssssssssssss

#3 Mildo Jr on 04.09.10 at 2:49 pm

huauhauhauhauhauh cabelão muito loco,, (2)

😀

#4 Renato on 04.09.10 at 6:32 pm

Caraca, todo mundo só fala da cabeleira do Rodrigo! Onde foi parar?

#5 Marco Aurelio Araujo on 04.11.10 at 7:20 pm

Lembra dos slides que vc apresentou na casa do Rubão (acho). Eu tava lá !! recém formado piloto nivel I !!hehe
O que vc falava era coisa de outro mundo pra mim !!
Bons voos !! agora sem acento.

#6 du on 04.12.10 at 12:47 am

Rapaz, Olha o style do Tutu nessas fotos! Poh bischo (LUIZ), o cicloturismo te fez bem! huahuahua!

#7 Vinicius Ribeiro on 04.13.10 at 12:42 am

Putz… me abstive de ler o texto, o que significa que me contentei em ver a versão cabelo-roqueiro de sua pessoa 😀

#8 De Trike até o Araçatuba e o Morro dos Perdidos — Transpirando.com on 04.23.10 at 7:04 am

[…] 1998 eu estava bem envolvido com o vôo de paramente. Havia ido em março, no campeonato brasileiro em Governador Valadares, e também na segunda etapa, em setembro, em Cambuquira. Meus finais de semana eram voltados […]

#9 Do Despertar à Maturidade Esportiva — Transpirando.com on 05.03.10 at 2:43 pm

[…] sabem o que é a sensação de voar por dezenas de quilômetros só com a força das térmicas ou saltar de 4.000 metros de altura, a 200km/h. Pouca gente sabe o que é pedalar mais de 100km em […]

#10 Transpirando Amor — Transpirando.com on 02.10.11 at 4:50 pm

[…] campeonato foi fantástico! O primeiro campeonato importante que participei. Passamos duas semanas voando todos os dias, […]

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